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OPINIÃO: Obrigado, Augusto

A vida, quase todos nós sabemos, é feita de ciclos, que, inexoravelmente, se cumprem, queiramos ou não, gostemos ou não. E isso vale para pessoas, para organizações, para países, impérios e até mesmo para a estrutura planetária em que, circunstancialmente, vivemos.

No último dia do mês de janeiro, pela última vez, almocei no Augusto. Ao entrar no Restaurante, foi inevitável, estabeleceu-se uma confusão de sentimentos e de sensações. Enquanto cumprimentava amigos e conhecidos, que encontrei ao passar pelas mesas _ como, aliás, sempre aconteceu _, desfilaram pela minha mente importantes frações de minha vida, desde a longínqua juventude até os tempos mais recentes, em que, por múltiplas razões, frequentei menos aquela casa tão vinculada à vida e ao imaginário afetivo de nossa cidade.

Como sempre, fui recebido com o carinho costumeiro de garçons, que, ao longo do tempo, se transformaram em amigos e que sempre receberam os frequentadores do restaurante de forma atenciosa, verdadeiros artífices do sorriso e da simpatia que foram (na saída, despedi-me de cada um deles, mas quero citar um para homenagear a todos eles: sucesso Moacir!).

Também como sempre, o abraço e _ outra vez _ as lágrimas do Augustinho e da Helena. Mais que nunca, faltaram o sorriso aberto e generoso do Marco, atrás do balcão, e a presença marcante e austera do velho Augusto, na primeira mesa em frente ao caixa. E faltaram pedaços do passado, amigos partidos, sorrisos descompromissados de tudo que não fosse sonho e esperança. E faltaram os sonhos que precluíram. De qualquer forma, por um momento, senti nos olhos e na alma, lampejos de afetos eternizados em palavras gentis e toques de mãos ansiosas, quase juvenis, certas do futuro que haveríamos de construir.

Perdi a memória do primeiro chope que tomei no Augusto e do primeiro camarão à grega, que ofereci, com pontinha de ostentação, à namorada. No Augusto, foi esculpida boa parte de minha provinciana vida de escriba. Nos seus "reservados", aconteceram encontros e debates literários e saraus poéticos capazes de transformar expectativas e certezas. Nas mesas do salão principal, boa parte dos livros dos quais participei foi idealizada, discutida e teve edição resolvida.

No Augusto, participei de memoráveis encontros e debates políticos e, eventualmente, tive oportunidade de sentar à mesa com figuras notáveis da vida pública brasileira.

Dessa escassa estirpe de restaurantes que se entrelaçam de forma tão intensa com a cidade (e se transformam em extensões de nossas casas), que nós, esquecidos de que a vida é feita de ciclos, os julgamos eternos, já se foram o do Socepe, o Vera Cruz, do Joaquim, na Venâncio, e, agora, o Augusto. Resta o Vera Cruz, da Medianeira, que, espero, Nellinho, irmãos e primos levarão adiante por muito tempo. Obrigado, Augusto, pelo que significaste para três ou quatro gerações de santa-marienses. Vida longa,Vera Cruz!

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